terça-feira, 9 de julho de 2013

Paradigma de humanidade (III)

Hans Christian Andersen
  Ao final do século XIX a diferença entre os rumores e as realidades encontradas em Portugal, rumores que haviam feito Hans Christian Andersen hesitar profundamente entre vir e não vir, faz-lhe tecer o elogio e a estranheza dessa diferença, pois

«Diferente é a realidade da imagem que formara de Lisboa pelas descrições que lera. «Mais luminosa e bela» é essa realidade. «Onde estão as ruas sujas que vira descritas, as carcaças abandonadas, os cães ferozes e as figuras de miseráveis das possessões africanas que, de barbas brancas e pele tisnada, com terríveis doenças, por aqui se deviam arrastar?» Nada disso. As ruas são «largas e limpas», as casas «confortáveis com as paredes cobertas com azulejos brilhantes de desenhos azuis sobre branco» e as portas e janelas de sacada «são pintadas a verde ou a vermelho, duas cores que se vêem por toda a parte, mesmo nos barris dos aguadeiros». Há vida e movimento.» (1)

Este quadro luminoso, de largas e limpas ruas, com casas de paredes cobertas com azulejos brilhantes em desenhos de azuis sobre branco, corresponde às impressões por ele colhidas em sua viagem, mas que se não distam daqueles quadros que também pintou Pires de Rebello, mais de trezentos anos antes. O entusiasmo de sua descrição refere um mundo confortavelmente habitado e neste sentido a sua referência ganha também carácter paradigmático. Que diferença entre os autores universais que dizem acerca de Portugal e alguns que só ficaram célebres pelo azedume.
(1) AAVV, Biblioteca Nacional, http://purl.pt/768/1/vap/em-lisboa.html, 2005, p.2