terça-feira, 29 de abril de 2014

40 difíceis anos económicos


As dificuldades de gestão colocadas após a revolução, devido às incertezas da conjuntura política, que foi cumulativamente convergente com o choque petrolífero de então, comprimiram a atuação económica. Foram precisos cerca de dez anos, após a revolução de Abril de 1974 para se devolver alguma perspectiva realista ao sistema económico. Entretanto, a produtividade cresceu pouco, e quando trabalhámos mais horas foi em setores que produziram menores fluxos positivos. Nesse período, de 1985 a 1990, se comparativamente o PIB cresceu pouco, 10%, a produtividade cresceu ainda menos 5%. Ou seja, as atividades económicas não deslocaram fortemente o seu padrão competitivo, devido à competição se exercer por via dos salários baixos e aplicadas em atividades de baixa tecnologia. A desvalorização do escudo ia favorecendo a manutenção e o crescimento desse tipo de atividades. Mas, com a valorização do escudo, sobretudo a partir de 1990, a produção de bens transacionáveis caiu. As transferências do exterior para as infraestruturas e para a reconversão de algumas atividades tardaram em produzir algum do efeito desejado, o estímulo à produção de qualidade carecia ainda de competências para nos alavancar suficientemente a um modelo de desenvolvimento com maior pendor tecnológico, à exceção dos vários cadinhos de excelência e dos cestos da gávea que sempre houve no País. Temos procurado inverter a situação, mas a lentidão está hoje bem patente no preço que continuamos atualmente a pagar. 

Ficam claras várias precauções, por um lado, sobre cálculos demasiado otimistas acerca da espontaneidade dos desenvolvimentos, sociais e económicos e, por outro lado, fazer despesa não resultará por si só em benefício duradouro nem é certo que sem incentivos as sociedades ganhem impulsos modernizadores.

Quando se tornar claro que o País adota estavelmente, sustentadamente, um programa de diminuição da despesa, quando se tornar claro que o País abre amplas vias de realização económica e intensifica o pensamento estratégico, quando a sustentabilidade fiscal tornar possível debelar os constrangimentos sociais (desemprego e envelhecimento), e, sobretudo, quando se tornar clara uma estabilidade política que assegure tal processo, então, e só então, os nossos esforços não terão sido em vão.