sexta-feira, 15 de maio de 2015

Anotações na perspetiva histórica

«A humanidade não é um dado concreto imediato, como o são as espécies animais. É uma conquista dos seres humanos que participam no processo e na aventura de ser no tempo e nas comunidades. A modernização gerou as princiais dinâmicas do mundo contemporâneo, mas não tem por que comportar a ideia radical da contenda e da rutura com o passado. Aliás, a maior parte das nossas instituições, de assistência social, democráticas, de ensino e ciência, de saúde, de cultura, ou foram fundadas durante monarquia constitucional ou assentam naquelas fundações. Assim a Constituição, o Parlamento, a Democracia, as Escolas públicas, básicas, secundárias ou superiores, os Tribunais, as Misericórdias, os Hospitais, os Teatros, mas também o ensino obrigatório, as estradas, o telégrafo, os comboios, a luz eléctrica, a livre expressão e a circulação de ideias, são acolhimentos e promoções de uma monarquia actuante e acolhedora ao sentido do desenvolvimento social, traço que sempre pode confirmar-se pelas instituições criadas no antigo como no novo regime, antes e a partir de 1822, em consonância com as inquietações de época e com as dinâmicas europeias
A introdução de novas técnicas, produções, saberes, a alteração relativa a estilos de vida com melhor saúde, higiene e projectos de vida em aberto, a mobilidade social, o aumento da literacia, são produtos da acção humana, nomeadamente orientadas a partir das instituições políticas, não são uma inevitabilidade. As ideologias que cindem o passado do futuro serviram de suporte a uma abordagem revolucionária que muitos e maus frutos deu, em sofrimento e perda de vidas humanas. A tentação de reduzir a complexidade da nossa vivência social a uma equação simples sempre produziu mais males que benefícios. Ao ganharmos perspetiva histórica sabemos que, se as épocas fazem prescrever, renovar ou criar diferentes entendimentos, a natureza humana não mudou muito nos últimos 2500 anos. »